sexta-feira, dezembro 14, 2001

Chegou as minhas mãos este texto de Rubem Alves. Depois de lê-lo, concluo que desejo relacionamentos do tipo frescobol.
Quero dividí-lo com os amigos.

Amor


Depois de muito meditar sobre o assunto conclui que os casamentos são de dois tipos:
há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal.
Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me.
Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: 'Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente e terminam na morte.
Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra; começava uma longa conversa que deveria durar mil e uma noites.
O sultão se calava e ela fazia amor com ele por meio de palavras.
É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro. O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola.
Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado.
Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Há casais que conversam como quem joga tênis. Outro, como quem joga frescobol...

terça-feira, dezembro 11, 2001

O sonho acabou.
O que acontece quando um sonho acaba?
Você desperta.
Pensa no sonho.
Sente saudade se ele foi bom; sente alívio se não foi.
Mas, pensa no sonho.
Pode até passar um tempinho revivendo aquelas cenas e mudando um pedacinho aqui outro ali.
Mas, de repente percebe, é hora de levantar, a vida continua.
O relógio marca o tempo e o tempo não vai parar.
Tem de levantar, sair desta cama onde sonhos viveu e despertar para a vida.
A realidade, seja qual for, te chama, te reclama.
Um bom banho, para tirar o suor do sonho,
para lavar a alma e despertar adrenalina, é necessário.
É necessário sacudir a poeira, espreguiçar, se vestir com esmero
e sair para o dia com um sorriso nos lábios e a malícia nos olhos.
Ah! A malícia nos olhos...
O sorriso nos lábios...
O perfume... sim, exalar o perfume dos que amam a vida
e acima de tudo dos que amam a si próprios.
Ah! A malícia nos olhos... me faz sorrir os lábios e amar...
Sinceramente? estou no banho.
Estou lavando o corpo e a alma
e junto com a água que escorre pelo corpo, escorre todo o passado.
Porque outros sonhos serão sonhados
e outros banhos serão tomados.
Por todos os dias, por toda a vida.

de minha autoria - 11/12/2001