sábado, maio 25, 2002

O Rio do Meio, de Lya Luft.
Há muito de mim neste livro.
Há muito de você, também.
Não sei se me identifico com a forma de escrever ou com o que está escrito,
A verdade é que me sinto escandalosamente exposta.
Jamais ouvira falar em Lya Luft.
Creio que todas a mulheres deveriam passar os olhos sobre estas linhas tão bem traçadas.
E acabariam por crer que não foram seus olhos que correram as palavras escritas, mas a alma que se identifica em cada parte, em cada lembrança, como uma auto biografia.
Lya Luft fala de si mesma, fala de mim, fala de você, fala de todos os seres em suas várias etapas.
Fala também dos homens, em menor escala, mas retrata também suas ansiedades e desconfianças, assim como faz com as mulheres.
Desnuda a alma humana, masculina ou feminina.

Em pequena amostra deste trabalho literário que indico, apresento:



“Traz dentro de si uma nova pessoa: sabe que não é mais a mesma, nada é como antes. Tonta dessa nova sensação, quer ser forte como um exército para defender a criaturinha, plena de amores para a cercar, mas vai descobrir que esse novo destino não lhe pertence. A cada gravidez esse impacto será como o primeiro, sempre novo. A maternidade, contraditória como tudo o mais, é a um só tempo plenitude e privação, orgulho e insegurança.
Junto com o filho gestamos dúvidas: dar a vida será dar a essa criança sua individualidade, suas derrotas e conquistas. E muito pouco disso poderemos vigiar. Cada filho rasga em nosso flanco uma ferida por onde entram dores e alegrias, e não seremos mais donas de nós. Mesmo quando esse bebê já for uma mulher serena ou um sólido homem com sua própria família e sua profissão, continuaremos – ainda que disfarçando – atentas, aprendendo que amar é tantas vezes um mergulho cego.”

sexta-feira, maio 24, 2002

Como anda a sua solidão?


É necessário admitir a solidão que habita nossos corações.
Todo ser humano traz em si uma carga de solidão.
E negar a solidão é negar a própria existência.
Mesmo o ser mais sociável, cheio de amigos e rodeado de pessoas que falam, gesticulam, também se sentem só.
A solidão não é um mal, mas um estado de espírito que revela a hora da introspecção, do voltar-se a si mesmo, do refletir para continuar a caminhada.
A solidão se torna preocupante quando, ao sentí-la, o ser humano se revela e nela se esconde na busca da vida, e acaba por fim encontrando sua morte espiritual.
Todos os dias encontramos pessoas que passam toda sua vida em busca de alguém com quem dividir seus dias, suas alegrias, suas tristezas, suas vitórias e suas derrotas,
pessoas que morrem de medo só em viasualizar a solidão.
Todos os dias encontramos pessoas que estão acompanhadas, bem casadas, bem amadas, bem tudo... mas ainda assim, sozinhas.
No recanto mais íntimo de seus corações está a solidão, aquele pontinho no canto esquerdo, que lateja, que incomoda, que está sempre ali a qualquer hora do dia ou da noite.
Há pessoas tão solitárias que nem percebem que suas atitudes externam e falam ao mundo de sua solidão.
Em geral, estas pessoas tem medo, verdadeiro pavor de serem vistas sozinhas e procuram um jeito de esconder-se. Há as que na fila do banco, no café da esquina, no banco da praça, na sorveteria, em qualquer lugar pegam seu celular – o salva-vidas do solitário – e ligam para qualquer pessoa, para falar qualquer coisa, não importa, o que querem é não passar a impressão de estarem sozinhas.
Por que será que temos tanto medo da solidão?
Por que será que damos mais importância ao que os outros pensam do que ao que verdadeiramente sentimos?
Há um segredo que todos sabem, mas ninguém revela – e não revelam a si mesmos – dentro de cada um de nós há todos os sentimentos, desde a solidão até a felicidade.
E aquele outro pontinho, bem maior e mais brilhante, que também habita nossos corações e lateja insistentemente, chama-se felicidade.
E do lado deste pontinho vivem outros, como a alegria, a paz e a compaixão.
Sim, a solidão está lá, mas ela não está sozinha.
Nem ela e nem você.

quarta-feira, maio 22, 2002

do Fernando Veríssimo:

Quando tinha 14 anos, esperava ter uma namorada algum dia.
Quando tinha 16 anos tive uma namorada, mas não tinha paixão.
Então percebi que precisava de uma mulher apaixonada, com vontade de viver.
Na faculdade saí com uma mulher apaixonada, mas era emocional demais.
Tudo era terrível, era a rainha dos problemas, chorava o tempo todo e ameaçava se suicidar.
Então percebi que precisava uma mulher estável.
Quando tinha 25 encontrei uma mulher bem estável, mas chata.
Era totalmente previsível e nunca nada a excitava.
A vida tornou-se tão monótona que decidi que precisava uma mulher mais excitante.
Aos 28 encontrei uma mulher excitante, mas não consegui acompanhá-la.
Ia de um lado para o outro sem se deter em lugar nenhum.
Fazia coisas impetuosas e paquerava com qualquer um, que me fez sentir tão miserável como feliz.
No começo foi divertido e eletrizante, mas sem futuro.
Então decidi buscar uma mulher com alguma ambição.
Quando cheguei nos 31, encontrei uma mulher inteligente, ambiciosa e com os pés no chão.
Decidi me casar com ela.
Era tão ambiciosa que pediu o divórcio e ficou com tudo o que eu tinha.
Hoje, com 40 anos, gosto de mulheres com bunda grande..
E só.


Força ou Coragem


É preciso ter força para ser firme,
mas é preciso coragem para ser gentil...
É preciso força para se defender,
mas é preciso coragem para não revidar...
É preciso ter força para ganhar uma guerra,
mas é preciso coragem para não se render.
É preciso ter força para estar certo,
mas é preciso coragem para admitir a dúvida ou o erro.
É preciso ter força para sentir a dor de um amigo,
mas é preciso coragem para sentir as próprias dores.
É preciso ter força para esconder os próprios males,
mas é preciso coragem para demonstrá-los.
É preciso ter força para fazer tudo sozinho,
mas é preciso coragem para pedir ajuda.